"Outra coisa, porém chama a minha atenção nos grupos de jovens que conheço: namoram muito e não namoram nada.
Namoram muito porque têm sempre um namorado ou uma namorada em campo, alguém em quem estão interessados, alguém que estão "azarando". Mas ao mesmo tempo não namoram nada, porque essas relações são muito inconsistentes. O casal se junta e se separa com a mesma facilidade. Não há amor, não há envolvimento. Há desejo hepidérmico. na verdade, não são namoros, são causalidades.
E como começam muito cedo, de uma causalidade em outra passa-se o tempo. Agradável a princípio, excitante, uma espécie de tiroteio cerrado de desejo, de busca, de troca. Mas cansativo a longo prazo, desapontador. Do amor afinal, esperavam mais do que isso.
Quando eu tinha 16 anos não se ia para a cama. Em compensação amava-se deliberadamente. Vai ver era por isso mesmo: não indo para a cama não se "esvaziava" o desejo, não se matava a sede, e então durante meses e meses, ia-se procurar aplaca-la na boca do amado, nas mãos errantes na acolhedora escuridão das matinês. Dentro de mim eu era uma grande eroína romântica, estava vivendo um grande amor .
Naquele tempo faltava uma coisa, hoje falta outra. Eu não podia me dar ao sexo. Eles não conseguem se dar ao amor. As moças com quem converso dizem que gostariam, que têm vontade de ter um namoro mais consistente, mas que os rapazes não querem. Será verdade? Mas será que eles não querem mesmo? Ou será que como elas, querem e não conseguem.
A tendência é achar que não param em nenhum(uma), porque podem ter todos(as).
Se eu disser que fogem do envolvimento porque costumam ter em casa exemplos de relação tumultuadas ou desastrosas, estarei fazendo psicologismo barato, porque a minha geração também teve exemplos paternais nada animadores.
Acontece também que são filhos diretos da baixa do amor, do descrédito da relaçao, e da ênfase nas emoções tonitruantes. Enquanto deixam o amor de lado, procuram terremotos emocionais no "som", no "brilho", "nos riscos".
Mas uma idéia me ocorre e parece ser mais acertada. A de que os jovens estejam de forma inconsciente, fugindo do amor justamente porque podem ter o sexo. Explico melhor: o amor é uma emoção importante, mas o sexo também, mas só o amor somado ao sexo constitui a emoção fundamental do ser humano. Ora, nem todos os jovens têm o mesmo grau de amadurecimento. E nem todos eles se sentem prontos para chegar ao topo do seu universo emocional. Antes todos podiam ter amor, e só os mais maduros - ou mais inconscientes - se lançavam na completude amor/sexo.
Agora acontece exatamente o oposto: tendo o sexo, evitam somá-lo ao amor, adiando a sobrecarga emocional que não se sentem capazes de enfrentar".
COLASSANATI, Marina. E por falar em amor. Rio de Janeiro: Salamadra, 1984.p301-2 (adaptação) _________________________________________________
Após a leitura do texto, responda as questões:
1. Quais são os dois tipos de namoro que Marina Colassanti compara?
2. Você concorda com a autora quando ela afirma que ter o sexo tornou mais dificil ter o amor? por quê?
3.Você acha que os jovens de hoje estão "fugindo do amor justamente porque podem ter o sexo"? Por quê?